Ambipar Surpreendeu o Mercado e Deixou Investidores no Vermelho

Introdução: Da promessa verde à turbulência financeira

Durante anos, a Ambipar figurou como uma das histórias mais admiradas da nova economia verde brasileira. A companhia, especializada em gestão ambiental e resposta a emergências, conquistou investidores com um discurso moderno, expansão internacional e com a promessa de unir sustentabilidade e rentabilidade.
Mas, por trás do brilho ESG, uma sequência de eventos financeiros, de mercado e de comunicação mal-gerida transformou o que parecia um caso de sucesso em um colapso de confiança.

Em 2025, a Ambipar viu suas ações despencarem, abalando pequenos e grandes investidores. O impacto foi ainda maior sobre quem acreditou em produtos estruturados como os COEs (Certificados de Operações Estruturadas), vendidos por diversas corretoras como alternativas “seguras” ao investimento direto. O resultado? Perdas milionárias e um alerta urgente para o mercado financeiro.


A trajetória da Ambipar: do crescimento acelerado à sobre-exposição

Fundada em 1995 por Tercio Borlenghi Junior, a Ambipar construiu uma reputação sólida no setor ambiental. O grupo cresceu rapidamente, consolidando operações em mais de 15 países e abrindo capital na B3 em 2020, sob o código AMBP3.

O entusiasmo inicial do mercado era evidente. A empresa surfava a onda da sustentabilidade e do “green business”, atraindo fundos ESG e investidores individuais sedentos por alternativas éticas e lucrativas. Em 2021 e 2022, a Ambipar chegou a figurar entre as small caps mais promissoras da bolsa brasileira.

No entanto, o crescimento veloz foi acompanhado por endividamento crescente, expansões via aquisições caras e comunicação financeira pouco transparente. Essas combinações criaram um terreno fértil para desconfianças que, mais tarde, se confirmariam.


O ponto de inflexão: deterioração dos fundamentos e perda de confiança

Entre 2023 e 2025, os sinais de fragilidade começaram a se acumular. Os balanços trimestrais mostravam pressões sobre o caixa, aumento da alavancagem e resultados operacionais aquém das projeções. A precificação de ativos no exterior e a variação cambial agravaram o cenário.

O mercado passou a questionar a sustentabilidade das margens e o modelo de expansão adotado. Agências de rating reavaliaram a saúde financeira da companhia e investidores institucionais reduziram exposição. O que era entusiasmo virou cautela e, logo, pânico.

Quando as ações começaram a cair de forma consistente, muitos investidores buscaram alternativas que prometiam “proteger o capital” mantendo exposição à Ambipar e foi aí que os COEs ganharam destaque.


COEs: a promessa de segurança que virou armadilha

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são produtos financeiros híbridos que combinam renda fixa e derivativos. Na teoria, eles permitem investir em ativos de maior risco com “proteção parcial ou total do capital”.

Na prática, muitos desses COEs foram estruturados sobre o desempenho das ações da Ambipar. Diversas corretoras e bancos ofereceram esses produtos como alternativas “seguras” e “inteligentes” para quem queria se expor ao crescimento da empresa sem arriscar tudo.

O problema é que essa proteção dependia de condições contratuais complexas e, em muitos casos, não era total. Além disso, os COEs não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), ou seja, se o emissor ou o ativo de referência colapsa, o investidor arca integralmente com o prejuízo.


A derrocada: ações em queda e liquidações forçadas

Com a queda expressiva das ações da Ambipar, os COEs atrelados à empresa começaram a sofrer liquidações automáticas. Muitos investidores, especialmente os iniciantes, descobriram tardiamente que poderiam perder parte ou todo o capital investido, mesmo tendo sido levados a acreditar que o produto oferecia segurança similar à renda fixa.

As redes sociais e fóruns de investimento se encheram de relatos de perdas inesperadas. Em alguns casos, os prejuízos superaram 80  à 93% do valor aplicado.

Esse episódio revelou um problema estrutural: a baixa compreensão dos investidores sobre o real funcionamento dos COEs e a falta de transparência de algumas instituições financeiras na oferta desses produtos.


Análise de mercado: o que realmente derrubou a Ambipar

Especialistas apontam que o colapso da Ambipar resultou de uma combinação de fatores:

  1. Excesso de alavancagem: o crescimento via aquisições aumentou o endividamento e reduziu a capacidade de geração de caixa.

  2. Falta de transparência contábil: investidores começaram a questionar a consistência dos relatórios financeiros.

  3. Pressão regulatória e ambiental: mudanças nas normas ESG e custos de conformidade corroeram margens.

  4. Risco de governança: críticas à comunicação corporativa e à estrutura de controle afastaram fundos institucionais.

  5. Efeito dominó no mercado: com a queda das ações, os produtos vinculados (como COEs) amplificaram as perdas.

O resultado foi uma espiral negativa de preço e reputação que culminou em forte desvalorização de mercado e, para muitos investidores, em prejuízos irreversíveis.


O papel das corretoras e o marketing dos “investimentos seguros”

Grande parte do problema decorreu de uma falha na comunicação entre corretoras e investidores. Ao comercializar COEs lastreados em Ambipar, muitas instituições destacaram o potencial de ganho e a “proteção do capital” mas omitiram que essa proteção era condicional.

Além disso, os materiais promocionais frequentemente usavam linguagem semelhante à da renda fixa tradicional, confundindo investidores menos experientes. O resultado foi uma percepção equivocada de segurança.

As autoridades do mercado de capitais passaram a discutir se houve quebra de dever fiduciário ou práticas de venda inadequadas, o que pode gerar investigações e punições futuras.


Alerta ao investidor: COE não é renda fixa nem possui FGC

É fundamental reforçar um ponto crucial: os COEs não têm garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).
Isso significa que, em caso de perda total do emissor ou do ativo de referência, o investidor não recebe ressarcimento.

Além disso, o COE é um produto complexo, cuja rentabilidade depende de múltiplas variáveis como desempenho de ações, taxas de câmbio ou índices internacionais. Para investidores iniciantes, que muitas vezes buscam apenas “algo mais rentável que o CDB”, esse tipo de produto pode representar um risco desnecessário e mal compreendido.

Especialistas recomendam que COEs sejam usados apenas por investidores com perfil arrojado, com total entendimento do contrato e do risco de perda do principal.


O impacto no mercado e o aprendizado que fica

 

Imagem: Divulgação com intervenção de  IA seudinheiro.com/

O caso Ambipar deixou marcas profundas no mercado de capitais brasileiro. Ele mostrou como a combinação de marketing agressivo, baixa educação financeira e complexidade dos produtos estruturados pode gerar resultados devastadores.

Ao mesmo tempo, serviu de alerta para que reguladores, corretoras e emissores revisem a forma como esses produtos são oferecidos. A transparência e a adequação ao perfil do investidor precisam ser pilares obrigatórios.

Para o investidor pessoa física, a lição é clara: não existe investimento de alto retorno e baixo risco.
Quando uma corretora afirma que um produto complexo é “seguro”, a primeira reação deve ser desconfiar e buscar informação técnica.


Ambipar tenta se reestruturar: há esperança de recuperação?

Nos meses seguintes à crise, a Ambipar anunciou planos de reestruturação financeira e revisão de estratégia, incluindo a venda de ativos não essenciais e o foco em operações core.
O mercado, porém, mantém ceticismo. A empresa enfrenta o desafio de reconquistar credibilidade, o ativo mais difícil de recuperar depois de um colapso dessa magnitude.

Alguns analistas enxergam potencial de recuperação de longo prazo, mas alertam: o caminho é longo e depende de execução impecável. Para investidores, a cautela segue sendo a palavra-de-ordem.


Conclusão: o preço da confiança e o dever da educação financeira

O caso Ambipar é mais do que a história de uma empresa em crise. É um retrato do mercado financeiro contemporâneo, onde inovação e risco caminham lado a lado.
Enquanto a Ambipar tenta se reinventar, milhares de investidores lidam com as consequências de decisões tomadas sob informações incompletas ou expectativas distorcidas.

O episódio reforça a importância de educação financeira, transparência e regulação eficaz.
Investir é, acima de tudo, compreender o que se está comprando.
E quando o produto promete segurança total, mas exige contratos de 50 páginas para entender o melhor investimento pode ser simplesmente não investir.

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Por Sonia Santos

É editora-chefe no blog https://soniaideias.com/ fundado em 2 de abril de 2013, e com muito orgulho é advogada.  Fale com a gente através de contato@soniaideias.com  ou  nos siga: https://web.facebook.com/soniaideias?locale=pt_BR&_rdc=1&_rdr#

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